sexta-feira, 11 de junho de 2010

As Navegações Marítimas: seu clero e sua pastoral.

As navegações marítimas mexeram com o imaginário europeu, sobretudo do português que se sentiu aguçado por tamanha façanha em percorrer mares. Projeto que levou à formação de uma aliança entre Coroa e Igreja. Duas instituições que supostamente ganhariam, com as novas conquistas em novas terras, a possibilidade de expandir a fé cristã e, conseqüentemente, ampliar os investimentos mercantilistas português.
Para Boxer, é comum ouvir dizer que os povos da península Ibérica – e em particular os portugueses – estavam especialmente preparados para inaugurar a série de descobrimentos marítimos e geográficos que mudaram o curso da história do mundo nos séculos XV e XVI. Entre essas vantagens, em geral, enumeram-se a posição geográfica na janela mais avançada da Europa sobre o Atlântico, e certas características nacionais desenvolvidas em oito séculos de luta contra os mouros (1).
A Igreja em Portugal vinculada à coroa portuguesa acompanhou as transformações que ocorriam ao longo do século XVI. A sua organização jurídica, por exemplo, em parte era composta por um cenário constituído pela burocracia régia. Ao longo desse período vivenciou, também, a Reforma e Contra-Reforma Religiosa
(2).
No que diz respeito à cristandade trata-se de uma reforma que visava prioritariamente à reconstituição do poder hierárquico, dando ao clero a liberdade para exercer o controle sobre a vida dos fiéis, incentivando e fortalecendo a ação pastoral e os cuidados disciplinares com a sociedade.
Dinâmica que se fez presente nos territórios conquistados, acompanhado das necessárias ações sociais, como as misericórdias, confrarias e instituições de capelas.
O corpo da Igreja é um espaço privilegiado de observação do campo dos poderes neste período. Por um lado, esse corpo não é uniforme nem compacto: é constituído por múltiplos organismos, por vezes de contornos mal definidos e com interesses nem sempre coincidentes. Por outro lado, a Igreja é investida pela ação das corporações e de outros grupos de agentes, que a procuram em envolver nas suas próprias estratégias.
Esta visão da Igreja como um espaço (relativamente) aberto ou como um corpo “exposto”, embora permita compreender melhor as interações a que está sujeita, não impede que se considere a estruturação de uma hierarquia consistente e de diversos organismos com interesses próprios, que participam justamente desse jogo de interações – numa palavra, não se pode separar as relações internas das relações externas (3).
A classe social do clero era composta por representantes dos status presentes na sociedade, tampouco constituía uma classe homogênea. Não havia uniformidade na sua composição hierárquica, seus membros variavam desde bispos de sangue real a párocos de aldeias e mal alfabetizados.

1.Cf. Charles Ralph BOXER, O Império Marítimo Português 1415-1825, Companhia da Letras, 2008.
2.Cf. João Batista LIBÂNIO, A Volta da Grande Disciplina. Reflexão Teológico-pastoral sobre a atual conjuntura da Igreja, Loyola, 1984.
3.Cf. Francisco BETHENCOURT, Os Equilíbrios Sociais Do Poder: “A Igreja”. In: José. MATTOSO; José R. MAGALHÃES (orgs.), História de Portugal No Alvorecer Da Modernidade (1480-1620), vol. III, Estampa, 1997.

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