quarta-feira, 9 de junho de 2010

A Igreja no Contexto Quinhentista e Seiscentista.

A Igreja portuguesa convivia com os problemas que se faziam presentes na sociedade européia como a fome e o alastrar da epidemia da peste negra (1437-1441) que atingiu uma grande parte da população, como também as questões pertinentes ás feiticeiras e às possíveis magias, além das incertezas geradas pelo audacioso investimento com as grandes navegações marítimas.
Delumeau menciona que os processos de feitiçaria, as pregações e o catecismo esforçaram-se, a partir do século XVI, em introduzir na mentalidade coletiva dos camponeses a necessária distinção entre Deus e Satã, entre os santos e demônios. Permanecia, no entanto, o medo dos múltiplos perigos que pesavam sobre os homens. Portanto continuavam, apesar das autoridades religiosas e leigas, com práticas suspeitas, tais como as tochas do primeiro domingo da quaresma e as fogueiras de São João.
O forte sentimento de medo que assolou a mentalidade europeía, sobretudo,a portuguesa desde a baixa Idade Média continuou presente ao longo da Idade Moderna e se instalou na mentalidade européia. Medo que influenciava o modo de viver e de se relacionar da sociedade, preocupada com a preservação de valores morais e da honra.
Nesta sociedade portuguesa marcada pelo medo, pela fome e pela peste negra, a Igreja implantou uma "pastoral do medo" na tentativa de manter e preservar a vida religiosa dos fiéis.
A peste negra que devorava milhares de vidas em toda a Europa era lida nesta perspectiva, como sendo um castigo. Tanto os médicos do corpo como da alma viam a solução no pedido de misericórdia e no arrependimento dos pecados, seguido da confissão.
Para Delumeau, o termo "medo" ganhou então o sentido menos rigoroso e mais amplo do que nas experiências individuais, e esse singular coletivo recobre uma gama de emoções que vai do temor e da apreensão aos mais vivos terrores. "O medo é aqui o hábito que se tem, em grupo humano, de temer tal ou tal ameaça de forma real ou imaginária".
O papel religioso e simbólico da Igreja em auxiliar e aliviar aquela população do desespero diante da morte e das preces de seus pecados terrestres era grande.